Nayara Nascimento

Psicóloga Clínica | Adolescentes e Adultos

Você precisa de um lar? Eu te dou um

Minha história é cheia de falhas e buracos no que diz respeito a pertencimento. Eu nunca me senti parte de nada, nem de ninguém, e é claro que a maioria das minhas sessões de análise são sobre isso. Vim de uma família de poucos, mas que devido a traumas intensos, o que era para ser dedicado às pessoas foi engolido por sentimentos profundos e não ditos. Cada um preocupado com seu próprio umbigo, lidando com seu próprio mundo, imerso no próprio sofrimento. Imagine a cena: eu, uma criança magricela, de cabelo grande e desgrenhado, sentada numa cadeira no meio do quintal e debaixo de um sol escaldante, sozinha e olhando para o nada. Porque eu queria, ou porque eu não tinha opção, já que o sol talvez me lembrasse que eu estava viva.
Cenas como essas, em contextos diferentes, me acompanharam durante toda a minha vida. Na infância, na adolescência, na faculdade… Eu já fiz inúmeras coisas e conheci diversas pessoas, mas ainda assim, nunca me senti pertencente a nada. Nunca à família (sanguínea), não a amigos, não a grupos sociais… Porém, após alguns anos, tenho percebido que o lar que tenho construído com meu marido tem me trazido essa sensação. Demoraram alguns anos para eu me despir e me permitir ser eu nesse relacionamento, mas vejo que foi necessário para agora eu olhar para mim, e olhar em volta e pensar: é aqui que quero estar.
Tenho facilidade em me conectar com pessoas que também são quebradas ou que tem faltas gritantes. Acho que me sinto menos sozinha e acredito que me permitindo cuidar do outro, eu me permito reparar minhas próprias falhas no cuidado que para mim foi tão ausente. É por isso que eu sou psicóloga e amo fazer o que faço. É por isso que escrevi um TCC sobre falhas no cuidado materno. Porque dentro de mim eu faço as pazes com a minha própria experiência de não ter sido suficientemente maternada.
E assim, neste ano que passou, foi a primeira vez que fiz uma ceia de Natal na minha casa, onde os convidados — em sua maioria — também eram pessoas que por algum motivo não se sentiram pertencentes à própria família. E esse momento foi importante para eu mesma me sentir pertencente ao meu próprio lar — o que eu criei.
Então, se você precisa de um lar, porque não tem nenhum: tudo bem, eu te dou um — mesmo que seja um pedacinho do meu.

Mais questões frequentes: