
Foi essa pergunta que fiz, essa semana, para uma amiga – também psicóloga. Uma pergunta retórica, que não precisa de resposta. Talvez porque saibamos que é muito mais delicado e profundo do que parece.
A profissão de psicologia é muito representada pelo cuidado, em vários sentidos, que prestamos a alguém. O cuidado pela escuta, o cuidado pelo olhar, o cuidado pelo acolhimento… Fazemos – e escolhermos fazer – isso diariamente. Em rodas de amigos, nas situações familiares, na vida fora do consultório… Também sempre somos escolhidos para prestar esse tipo de cuidado. Outro dia eu fui comprar plantas e uma pessoa passou um bom tempo comigo desabafando sobre a vida – e ela nem sabia que eu era psicóloga. A questão é que nosso fazer profissional acaba transparecendo também na vida pessoal.
Mas também somos seres humanos, não é? E ser humano significa que também passamos pelos terrenos sinuosos do pensar, do sentir… Também nos deparamos com emoções e sensações tenebrosas. Inconscientes avassaladores. E muitas vezes, também não temos ferramenta para lidar com essas situações. E dependendo, estamos tão acostumados a cuidar do outro que esquecemos de cuidar de nós próprios.
Na pandemia, lembro de ter falado para minha antiga analista que o que estava me ajudando a segurar toda a onda de medo e desespero eram as trocas mútuas que tínhamos no grupo de whatsapp dos psicólogos.
“Compreendo que num fazer tão solitário que é o de ser psicólogo, além de precisarmos cuidar de nós e das nossas necessidades, é essencial estarmos em rede.”
Depois, compreendo que num fazer tão solitário que é o de ser psicólogo, além de precisarmos cuidar de nós e das nossas necessidades, é essencial estarmos em rede. A terapia/análise é essencial, e muitos deveríamos dar uma importância maior do que se tem a esse ato. As supervisões, os grupos de estudo, as relações de troca, também são muito importantes. Por que no fim das contas, quem cuida do cuidador, é um outro cuidador.
Momento lúdico: Um trecho, na verdade, o refrão da música “Arrendado” do artista pernambucano Jr. Black. Para questionar, sem responder.
E pra você, quem cuida do cuidador?