
Aproxima-se o dia das mães e quero propor uma reflexão importante sobre afeto.
É muito reforçado socialmente que mães e pais sejam agraciados com todo o amor que uma possa possa ter. Existe a questão biológica, existe a questão religiosa e existe, claro, a questão do afeto. Mãe e pai são sagrados.
Mas será?
Winnicott vai falar bastante sobre a mãe suficientemente boa. Perceba: suficientemente. Nem de mais, nem de menos. A mãe-demais sufoca, e a mãe-de-menos abandona. E é sobre a mãe-de-menos que eu quero falar.
Quando pensamos nessas falhas subsequentes, da falta constante, no abandono presente o tempo inteiro, estamos falando de uma pessoa que não está ali para aquela criança que está se desenvolvendo. Uma mãe que não existe. Nesse sentido, que tipo de afeto que pode ser construído com uma pessoa que não existe?
Quando essa criança cresce, não é justo que seja cobrado dela um afeto para um ser que nunca esteve ali, que não nutriu ou cuidou de uma relação, que não axiliou em um processo de desevolvimento e construção do Ser. E nisso, estamos falando tanto de aspectos simbólicos quanto de aspectos concretos. E muito provavelmente essa criança teve uma outra figura de cuidado, para ter conseguido crescer e se desenvolver de uma forma satisfatória, porque a falha constante compromete a saúde.
Dito isso, é preciso ressaltar que socialmente a figura “mãe” é um ser que não pode de jeito nenhum falhar. Quando o “pai” pode. É muito mais comum e natural dizer “tive um pai ausente”. Até a possibilidade de pensar “tive uma mãe ausente” é algo completamente inaceitável. Já parou pra pensar em que estruturas de machismo estão influenciando por aí?
“Amor não brota do peito simplesmente porque uma pessoa reconhece suas figuras parentais. Toda relação é uma relação de mão dupla, de trocas. As relações parentais não serão diferentes.”
A intenção não é intensificar uma culpa que já é constantemente presente nas figuras maternas, mas simplesmente mostrar que pra existir afeto é necessário ter tido algum tipo de afeto antes. Amor não brota do peito simplesmente porque uma pessoa reconhece suas figuras parentais. Toda relação é uma relação de mão dupla, de trocas. As relações parentais não serão diferentes.
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