A abordagem psicanalítica talvez seja a mais famosa da psicologia, pois foi criada por nosso conhecido amigo Freud, há mais de 100 anos! A psicanálise clássica é colocada em reflexão em muitas discussões acadêmicas nos dias de hoje, pois como algo que existe há mais de um século ainda pode ser influente? Por isso, a psicanálise passa por muitas adaptações.
Pois bem, lá no finzinho dos anos 1890, Freud, que então era neurologista, começou a se interessar pelo funcionamento das instâncias psíquicas. Ele descobriu que a maioria desses sintomas, tinham uma razão psíquica inconsciente por trás, e ele passou então a estudar o inconsciente e descobrir como este se comportava.
A teoria freudiana é muito extensa, não atoa uma pessoa leva anos para formar-se psicanalista, mas o principal é entendermos que muito do que acontece conosco vai pra esse campo chamado inconsciente. Chamamos de repressão tudo isso que mandamos para lá. Muitas vezes é algo que imensamente doloroso e não conseguimos lidar, ou um trauma propriamente dito.
O objetivo da psicanálise, então, é tentar trazer esse conteúdo inconsciente e reprimido para que possa ser analisado, elaborado, refletido, e que a pessoa possa ir, aos poucos, aprendendo a lidar com essas situações dolorosas e traumáticas.
Muitos outros psicanalistas surgiram depois de Freud. Sua própria filha, Anna Freud, produziu um rico material a respeito dos mecanismos de defesa. Tivemos Melanie Klein, que trouxe a possibilidade de uma psicanálise com crianças, além de outros conceitos importantes. Teve Lacan, que foi o mais famoso depois de Freud. Os menos conhecidos como Bion, Ferenczi, Winnicott e outros, também tiveram muitas contribuições.
Mas a diferença de Winnicott para o pai da psicanálise é a possibilidade de uma adaptação na análise. Ele era um pediatra inglês, bem no período da segunda guerra mundial, que durante muito tempo observou o comportamento de bebês com suas mães, então começou a pensar a psicanálise a partir desse olhar. Seu conceito mais famoso é o de mãe suficientemente boa, ou seja, aquela mãe que supre as necessidades do bebê. Ela sabe quando o bebê está com fome, ou com dor, ou com sono, ou apenas precisa de colo. E, dentro de suas possibilidades, atende a essas necessidades. Aqui entendemos mãe como qualquer pessoa que esteja cuidando desse bebê.
Sendo assim, podemos entender que cada bebê, assim como cada pessoa, tem uma necessidade diferente, em um momento diferente, ou de uma forma diferente. E é isso que o analista winnicottiano traz para o setting terapêutico. Para Freud, a psicanálise só era possível se o paciente se deitasse no divã, de costas para o analista. Para Winnicott, a psicanálise é possível em qualquer lugar, de qualquer forma.
Winnicott se interessa pelo verdadeiro self de uma pessoa, ou seja, o eu real. As vezes ele demora muito para aparecer, mas o analista é essa figura paciente, acolhedora e respeitosa que, com cuidado, ajuda esse paciente a entrar em contato com o seu eu e se descobrir enquanto pessoa.
Para Winnicott, a psicanálise é possível em qualquer lugar, de qualquer forma.
Outros conceitos importantes trazidos por Winnicott são os de criatividade (no sentido de fazer) e o de brincar, trazendo essa questão da espontaneidade. Fala também sobre os conceitos de dependência, refletindo que nunca de fato vivemos numa independência total, afinal somos seres sociais.
Winnicott não era apenas analista de crianças, como muitos pensam, mas trouxe a importância de entrar em contato com esse mundo infantil para nos conduzirmos em nossas vidas adultas, maduras. Essas crianças, inclusive as que vivem dentro de nós, precisam ser cuidadas.
Vamos cuidar dessa criança? Compreender quais são as suas necessidades e tentar adaptá-las para a vida adulta?
Por vezes, é muito confortável não olharmos para todo esse conteúdo inconsciente que vem sendo preenchido desde que nascemos, mas isso não significa que ele não existe. E pode ser extremamente doloroso não lidarmos com ele.
Winnicott fala sobre isso, numa frase bem lúdica mas direta: “É uma alegria estar escondido, mas um desastre não ser encontrado.”